O Poder dos Pais Jacqueline Vilela • 31 Janeiro 2016
"Verifico que com as crianças, mesmo com as bem pequenas, os pais costumam explicar, justificar os “nãos” exaustiva e desnecessariamente e, quando os filhos se tornam adolescentes, tendem a dar muitos “nãos” sem justificá-los. Provavelmente cansaram de tanto explicar! Isso é totalmente errado, sendo correto justamente o contrário" por Ceres Araujo
Os pais geralmente dão muita atenção para os filhos pequenos. Querem o melhor para ele, desde carrinhos de bebês, berços e roupinhas, até revistas e grupos engajados para garantir a melhor infância para o filho. Geralmente costumam buscar orientações e se tornam participantes assíduos em fóruns para saber, desde coisas corriqueiras, até atitudes do comportamento, como o choro e a birra.
Mas o tempo vai passando, os filhos vão mudando e os pais vão cansando ou automatizando a educação. É como se toda a carga emocional da educação fosse concentrada na fase das descobertas iniciais, que é o nascimento e os primeiros anos do filho, e todo o resto viesse de modo automático.
Quando o filho entra na pré-adolescência e posteriormente na adolescência, os pais literalmente ficam sem saber como agir e também já não encontram mais tantas informações acessíveis de modo prático e simples, como nas fases anteriores.
Um exemplo claro disso é que recentemente eu tentei fazer uma pesquisa nas redes sociais, sites e revistas e encontrei apenas informações soltas e desconectadas para os pais de adolescentes.
Enquanto no Facebook uma comunidade de mães grávidas, de bebês pequenos e crianças chega a marcas de 200 mil curtidas e engajamentos diários dos participantes, uma comunidade de pais de adolescentes bate a humilde marca entre 400 a 1.000 curtidas, no máximo.
O engajamento também é mínimo. Quando há, infelizmente gira em torno de um assunto já bem mais sério e já instalado nas famílias, como o uso de drogas, a gravidez e a depressão dos adolescentes.
A maioria dos pais que me procura já está com problemas com os seus filhos adolescentes e com aquela sensação de que fez tudo errado. Então eles se culpam por tudo, por não terem percebido os sinais, por não terem sido presentes, pela rigidez, por soltar demais, por não saberem o que fazer agora.
Se você é mãe ou pai de um pré-adolescente ou adolescente o momento de ajustar (ou começar) a educação emocional do seu filho é hoje. Eu te garanto que você pode evitar grande parte dos problemas futuros, mas isso vai exigir de você uma mudança no olhar para esse seu filho adolescente.
Eu agora te convido a pensar de um modo novo sobre essa fase do seu filho. É importante desconstruir a visão de adolescência como uma fase de crise e de rótulos como “aborrescente”, intolerante, irresponsável, rebelde etc. Esses rótulos não te ajudarão em nada, pelo contrário, apenas te deixarão no piloto automático na criação do seu filho, sem ter a possibilidade de agir para ajudá-lo na nova fase da vida dele.
Você precisa construir um olhar para a própria adolescência e para o/a seu adolescente de modo único e novo e entender que os recursos usados até o momento não serão mais suficientes para lidar com a situação. Mais do que mandar, você agora terá que se tornar mestre em influenciar, em exercer a sua autoridade mais do que o seu autoritarismo.
Por isso eu te convido a deixar para trás frases ou conselhos prontos que você ouviu em algum lugar, como:
- Aborrescente é tudo igual;
- A culpa é do meu filho (a) que se tornou um preguiçoso (a) e não quer saber de nada;
- Que fase chata, espero que passe logo;
- Nada do que eu falo ele aceita, então eu parei de falar;
Comece a olhar para o fato de que muitas coisas estão acontecendo com esse adolescente. Imagine que esse seu filho era criança e agora não é mais, mas também ainda não é considerado um adulto. Ele precisará achar esse lugar no mundo, um lugar para ocupar. Mas ao mesmo tempo os hormônios estão a todo vapor e a preguiça (tão criticada pelos pais) vem como uma consequência dessas mudanças.
Sim, em alguns dias o seu filho estará de bom humor e em outros não, as reações serão mais imprevisíveis do que antes (por isso o controle não resolve), a tendência à desobediência aumentará, assim como o negativismo e a oposição às regras já estabelecidas.
Sim, o seu filho não será muito aberto a diálogos com você, não do modo que você se acostumou. E você, que é o (a) adulto (a) nessa situação, terá que encontrar novos modos de chegar até o coração dele (a).
Você tem um novo ser em casa, que agora precisa de você (embora não admita) para lidar com as instabilidades emocionais.
Muitas das atitudes do seu filho pré-adolescente ou adolescente é um grito para dizer ao mundo: - Eu estou aqui, eu existo e eu quero um espaço. Eu já não ocupo mais o espaço da criança e não ocupo ainda o espaço do adulto, então eu quero encontrar o meu espaço.
E o fato de discordar em vários aspectos é a forma que ele encontra para se afastar do mundo dos pais, deixar de ser o bebê da mamãe e o filhinho do papai, para conquistar a própria autonomia e a independência.
A adolescência é a fase intermediária da vida e essa fase é quase que um "não lugar". Padre Fábio de Melo
Mudar o seu olhar vai te permitir entender que ao mesmo tempo que os padrões da adolescência sejam comuns, o seu filho é único e você precisa descobrir a chave para continuar (ou voltar) a ser o educador da vida dele.
Nem sempre as nossas casas estão preparadas para acolherem esse adolescente – Padre Fábio de Melo
É também nessa fase que o seu filho mais questionará logicamente a sua conduta.
Uma casa sem fundamento dá lugar a uma briga por territórios, pela razão acima de qualquer coisa e pelas proibições sem explicações. Ao perceber que foi colocado (a) na parede sobre uma atitude ou hábito que exige, mas não pratica, a mãe ou o pai pode atacar e perder a razão na argumentação.
Ter um filho adolescente é ter atenção redobrada. Ao contrário do que fazem os pais, não é se afastar, mas sim criar mais intimidade através de um forte sentido de pertença à família.
Se o seu filho entende que aqueles valores aprendidos são bons e são praticados, ele poderá querer pegar os valores para essa fase de transição. Se ele sentir que os valores ditos são corrompidos pelos pais, ele pode querer buscar novos valores.
Todas as lacunas causadas na adolescência serão preenchidas. Pense que o seu filho está montando um grande quebra-cabeças e precisará de referências. Se ele acreditar que os valores familiares não são concretos e verdadeiros, automaticamente ele buscará essa peça em outro lugar para construir o modelo de vida dele.
A minha missão é trabalhar antes dos pais de adolescentes enfrentarem problemas mais sérios, é na prevenção, na conscientização de que é possível continuar educando os filhos em todas as fases da vida dele.
E eu te garanto que a educação emocional é a melhor e mais eficiente arma para ajudar o seu filho em qualquer fase da vida dele, inclusive pré-adolescência e adolescência.
Sim, eu defendo uma educação no amor. Para os pais de crianças pequenas é bem fácil explicar esse conceito e conseguir que eles apliquem, mas para os pais de adolescentes nem tanto porque requer um esforço diferente e uma certa habilidade nos relacionamentos.
O que seria uma educação no amor?
A educação no amor é investigativa e baseada no respeito pelo outro, sempre.
Investigativa porque parte da ideia de que todos nós estamos em constante mudança e que cada fase merece uma nova forma de acolher.
Baseada no respeito pelo outro porque identifica que sempre temos duas pessoas na relação e a parte que possui o maior recurso, a maior consciência (neste caso os pais), é a responsável por manter o equilibrio da comunicação, entendendo que o outro merece ser ouvido e validado.
Essa mesma educação no amor é incondicional. Quando você condiciona o seu amor baseando-se nas atitudes do outro, você acaba entrando em conflito. É como se você estivesse mandando uma mensagem para o seu filho: - Eu só te amo se... (Você for educado, não me responder, não questionar minhas atitudes, não for bem na escola, se não for tão preguiçoso).
Condicionar o amor é o grande responsável pela “sensação” dos jovens de que não estão sendo amados pelos pais. É como se um turbilhão de coisas estivesse acontecendo e ao mesmo tempo a cobrança pela perfeição sempre estivesse presente.
Eu coloco “sensação” entre aspas porque eu sei que os pais amam os filhos, mas se esse amor não for inteiro, presente e consciente, os filhos não conseguirão sentir. Educar no amor é diferente de sentir amor pelos filhos.
A atenção nessa fase será diferente das fases anteriores, que podia ser mais física, com abraços e apertões. Agora o carinho dos pais deve ser demonstrado na atenção e na empatia, mostrando ao filho que você compreende o que está acontecendo naquela fase da vida dele e que você não é indiferente a esse momento.
Respeitar a necessidade de ser diferente do seu filho te dará uma imensa abertura inclusive para que você o ensine a ser diferente a partir de situações positivas e não negativas.
Mas, se eu amar incondicionalmente o meu filho eu terei que deixar ele fazer o que quer?
A resposta é não. Amar incondicionalmente não é permitir tudo, está longe disso.
A educação no amor também entende que o respeito precisa ser cultivado e as regras estabelecidas. O ponto chave está na coerência dessas regras e na atenção de que elas devem valer para a família também e não apenas para o adolescente.
Exigir respeito quando você desrespeita, exigir honestidade quando você não é honesto com os filhos são atitudes que abalam a relação de amor.
Deixar os filhos soltos não é prova de amor, ao contrário, é prova de que você está com medo. Medo de educar e não ser amada (o) pelo seu filho, medo da frustação dele e dos diálogos que surgirão por causa desse “Não”. Muitos pais usam a desculpa do amor para não educar, o que é um grande erro que será colhido na pré-adolescência e na adolescência.
A fase da adolescência é como se o seu filho tivesse uma vasilha que está comportando uma quantidade de água que é demais para ela, então ela transborda. É por isso que muitas vezes o seu filho se torna agressivo ou apático. Padre Fábio de Melo.
Pense em uma semente, que é o seu filho. Conforme ele vai crescendo você vai regando, vai nutrindo e vai preparando o solo para que seja fértil. Claro que a educação na infância merece toda a atenção, mas o ponto é que o seu filho, quando pré-adolescente, ainda não virou uma árvore forte, ainda precisa que você continue regando e cuidando do solo.
Você não pode colocar água demais, nem de menos. E nessa fase você ainda tem que ensinar o seu filho como ele deve fazer para também regular a quantidade de água que vai precisar para crescer forte e saudável.
Explicando melhor: A sua missão de mãe ou pai nessa fase é ajudar o seu filho (a) a extravasar essas emoções da maneira correta, de modos saudáveis e que faça sentido para esse jovem. Se você insistir em entrar em confrontos diretos ou desistir, estará deixando o seu filho para decidir totalmente sozinho como ele vai derramar essa vasilha cheia que ele tem.
Se o seu filho (a) não encontrar um bom modo de extravasar os seus excessos, ele se transformará nos próprios excessos e daí vem as maiorias das dores e dos jeitos errados de lidar com a vida.
Perceba que em cada fase do seu filho você tem uma oportunidade única de ajuda-lo a ser mais feliz e conectado e que não olhar para isso é um grande erro, um dos maiores erros que os pais podem cometer.
Se você errou nas fases anteriores, o pior a fazer agora é nutrir a culpa. Você pode revertar muito mais a situação se entender que existe o momento de acertar a mão e voltar a cultivar amor na vida do seu filho, do modo correto.
Eu não sei se você sabe, mas além de coach de Pais eu sou coach de carreira para adolescentes e atendo jovens que não sabem qual profissão seguir e na maior parte do tempo eu trabalho com eles ferramentas de autoconhecimento.
Avaliando os jovens que eu atendi, descobri que a maioria esmagadora (99,99%) ama os pais, mas não consegue se comunicar com eles. Eles reclamam que os pais não os entendem e que se sentem totalmente desamparados.
Recentemente eu encerrei a primeira turma do programa Pais Parceiros e a minha alegria é enorme. Ver a transformação dos pais nas suas relações com os filhos é o que faz o meu coração bater. Então eu te digo que a educação emocional é possível e que é transformador para você, para o seu filho e para a familia.
Se você quiser saber mais detalhes sobre a próxima turma dos Pais Parceiros, mande um e-mail para O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. e eu te avisarei assim que as inscrições começarem.